terça-feira, 22 de setembro de 2009

Eu odeio short stacks!

Eu odeio short stacks!! Falo especificamente de jogo cash. Short stacks são os figuras que entram com o mínimo na mesa, normalmente 20 BB. No NL50 (no-limit holdem 0,25/0,50), eles entram com $10 quando o máximo varia entre $50 e $100.

Por que eu odeio os short stacks??
  • Diminuem em muito o dinheiro da mesa e das jogadas. Fica bem mais difícil de extrair valor das suas mãos.
  • Os "bons" (não acho que ninguém que joga assim joga bem) jogadores short stacks jogam sempre no push-or-fold (ou entram e all-in ou não entram). Isso, para mim, tira o grande barato do poker que é a leitura pós-flop. E o pior, depois que eles dobram (quando dobram), saem da mesa... malas!
  • Nunca dão odds para suas mãos com potencial apenas pós-flop. Exemplo: pares baixos e suited connectors. Contra short-stacks, a jogada correta com essas mãos é sempre fold.

Como jogar contra eles?

A primeira coisa é perceber o range de cartas que ele está jogando. Isso pode ser feito pelo VPIP ou PFR (os dois números tendem a ser iguais). Se o VPIP é menor do que 5, normalmente vc vai encontrar algo como TT+ e AK. Alguns jogam com valores maiores, colocando no range 77, 88, 99 e AQ. Jogadores piores, colocam AJ e AT. Jogadores realmente ruins, aumentam o range para mãos como 22+ e KQ, KJ (broadway hands de maneira geral). Jogadores terríveis que deveriam ter o nome pintado de cor diferente e em negrito jogam short-stack da mesma maneira que jogariam deep stack, ou seja, dando raises de 3BB, c-bets, etc. Esses jogadores costumam invariavelmente perdendo todo o dinheiro para a mesa. Depois de percebido, jogue de acordo com o range.

Exemplo 1: imagine que vc tem JJ na sua mão. Vc dá um raise padrão de 3BB (ex. 1,50). Um short stack com VPIP < 5 volta all-in em cima de vc. A mesa roda em fold. A jogada correta, na minha opinião, é fold (a menos que vc tenha uma leitura específica do jogador em questão). Vc só está em vantagem contra um pouco provável TT ou um AK (nesse caso, ligeiríssima vantagem). Contra QQ+ vc está em maus lençois. Atenção: já vi acontecer de alguns short stacks com VPIP baixo entrarem de mini-raise (ex. 1,00). Na minha visão: 90% de chance de ser AA a mão dele.

Exemplo 2: vc tem o mesmo JJ na sua mão. Dois jogadores entram de limp e um short stack com VPIP > 10 volta all-in. A ação chega até vc. Nesse caso, eu acho que a melhor jogada é voltar all-in. Vc provavelmente vai isolar os outros 2 limpers e jogar com provável melhor mão contra o short stack.

E contra os jogadores short stack que gostam de jogar "normal"? Minha visão: um jogador que senta com $10 numa mesa cujo máximo é $50 sem uma estratégia muito específica de jogo (que normalmente envolve o push-or-fold) é um verdadeiro pato. Provavelmente algum jogador novo no on-line que não quer perder muito e que ganhou o dinheiro em um desses sites de incentivo. Ou alguém de nível de poker inferior que está arriscando uma pequena fatia do bankroll no NL50. Contra esses caras, eu sempre quero estar no pote (se ele vai deixar o dinheiro na mesa, que deixe comigo) e sempre jogo com muita pressão no pré e no pós flop. Eles muitas vezes não querem arriscar o dinheiro deles (se quisessem, jogariam com o all-in), querem apenas "brincar". Se eu der raise pré-flop e ele pagar, eu volto all-in com qualquer mão com potencial no pós-flop (par, queda para flush, OESD etc).

Bom, é isso. Não sei se existe, mas deveria haver mesas cujo buy-in mínimo fosse 50BB. Assim tirariam essas ervas daninhas da mesa e deixariam quem quer realmente jogar poker (nota: quem joga com 50BB também costuma ser pato, e nesse caso é pior ainda pois acho que nem existe boa estratégia como o push-or-fold dos short stacks :-)

Quer ficar dando all-in pré-flop?? Vai jogar torneio! :-)

[]s!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Controlando o pote: check com mãos boas

É muito comum você ouvir falar ou ler em artigos de poker que "controlar o pote" é importante. Esse termo pode ser considerado até um certo modismo dado que a estratégia de small ball torna-se cada vez mais popular. De qualquer forma, foi um conceito que demorei um pouco para absorver mas que considero fundamental para cash games e para torneios. Vou falar especificamente de cash games aqui.

Vou colocar como exemplo uma mão que joguei no meu cash game live semanal que jogo com amigos às quarta-feiras. Essa mão eu estou jogando contra um grande amigo e bom jogador de poker, o Fábio. Foi uma mão infeliz (para ele, no caso :-)), mas que ilustra - ao meu ver - uma oportunidade perdida de controle de pote.

Modalidade: NL Holdem, cash game, $0,20/$0,40
Fábio: stack = ~$25, hand = Ax (não lembro o 'x' mas não é tão relevante)
Daniel: stack = ~$45, hand = 33

(obs: os valores dos stacks são inexatos mas a ordem de grandeza me parece essa)

= Pré-flop =

O Fábio abre raise de $1,60 do UTG. A mesa roda em fold até mim, que estou no BB com pocket 33. Esse raise de $1,60 é considerado "padrão" na nossa mesa. Mesmo jogando fora de posição no pós-flop, resolvo completar com $1,20 em busca de um set (dado o tamanho dos stacks) ou de um board com cartas baixas. Vamos jogar heads-up!

= Flop (Pote: $3,40) =

3 3 A

Nem queria :-)! Quando eu flopo uma quadra, via de regra eu faço slow play. Dou check. O Fábio aposta $1,50. Um raise UTG seguido de uma aposta em board dobrado... Bom, a cont-bet nesse caso é básica dado o perigo do board. Nesse momento, o range de cartas do Fábio na minha visão não muda com relação ao raise pré-flop. Range mais provável, para mim, é: 77+, Ax (com x > 10) e KQ. Pode ser que ele tenha algo como KJ ou QJ mas não acho provável.

Eu dou call.

= Turn (Pote: $6,40) =

A (o board agora está 3 3 A A)

Excelente carta para mim!! Se ele tem o ás eu vou ter um pote grande. Dou check de novo. Ele aposta $3,50. Depois do meu call e da segunda aposta dele, a chance do Fábio ter um ás subiu MUITO. Volto com raise de $10 total. Ele volta all-in. Até pensei que ele poderia ter AA e falei: "Vou dar call pois ou eu ganho todo o seu dinheiro ou vamos ter uma excelente mão quadra contra quadra". Ele respondeu: "quadra??". Bom, tive a resposta que queria.

O river não ajudou e eu levei todo o pote. Lógico que depois dessa vem o questionamento: "o que eu poderia fazer?? Full de ás contra quadra... Azar!". Bom, concordo que foi azar, mas agora de cabeça fria é hora de avaliar logicamente a mão para ver se teria como ter escapado dessa.

Quando falamos de controle de pote, o principal ponto é: dar check (ou apostar bem pequeno) com mãos feitas para manter o pote pequeno. Como as apostas costumam ser indexadas pelo pote (1/2 pote, 2/3 pote etc), quanto menor o pote menor as apostas do oponente no futuro e, consequentemente, mais fáceis as suas decisões. O pote deve ser controlado quando a sua mão tiver força pequena ou média. Dar check com mãos monstras não é controle de pote, é slow play (foi o que eu fiz) pois você não quer um pote pequeno, muito pelo contrário. Nessa mão específica, eu acredito que poderia ter havido melhor controle de pote por parte do Fábio com um check no flop e/ou no turn. Explicando o porquê:

= Check no flop =

Eu dou raise UTG com AQ (vamos supor que tenha sido essa a mão dele) e o BB me dá call. O flop vem A 3 3. O Dan Harrington fala no livro dele de cash game: "é comum ver em high stakes poker os profissionais dando check com top pair no flop para fazer controle de pote". Isso pode ser comprovado nos programas de High Stakes Poker (que passa na GSN). É interessante se mixar 50% de check com 50% de bet nesse caso.

Por que o check no flop é interessante:
  • Se o vilão tiver um 3, vc mantém o pote pequeno e demonstra "fraqueza" para o oponente. Isso fará com que as próximas apostas sejam menores e vc perca pouco.
  • Se o vilão tiver um A, vc entra numa disputa de kicker que não deve te render muito dinheiro. Só se o vilão for muito fraco e gostar de colocar muita grana no pote com kickers medíocres. E se o vilão tiver AK, vc pode se dar mão.
  • Se o vilão tiver um par médio (como não houve re-raise no pré-flop, pouco provável que ele tenha AA, KK ou QQ), ele pode achar que tem uma boa mão com o seu check e apostar ou pagar apostas no turn/river.
  • Se o vilão tiver uma broadway hand (KQ, QJ, KJ etc), a mão dele pode melhorar com a carta do turn e você ganha alguma ação.
  • Dar check com uma mão feita insere um grau interessante de "deceptive play" no seu jogo. Você deixa de ser o jogador que "quando dá check não tem um jogo formado".
Mas e a free-card?? Não é ruim dar uma free-card no turn?? Normalmente não, principalmente nesse caso específico. Se o vilão tem um par médio, a chance dele melhorar é de 10% no turn. Se ele tem um pocket pair, a chance é de 4% dele formar a trinca. Em um board não naipado e nem conectado, as chances de melhora são baixas.

= Check no Turn =

Olhando friamente, aqui foi o pecado, na minha visão. A situação era: eu tenho Ax e o board tem 3 3 A A. O ponto principal aqui é: qual o valor que eu espero tirar dessa situação? Qual a chance do vilão me pagar com alguma coisa pior do que a minha mão?

É preciso ser um jogador MUITO, MUITO fraco para pagar um raise aqui com um 3 ou pocket pair qualquer. Pior ainda é dar um reraise de $10 (como eu fiz) deixando você pot-commited se der call no raise.

Me colocando no lugar do Fábio (análise a posteriori), dada a situação da mão no turn, ao meu ver, existem 4 opções da mão do vilão (no caso, eu):
  • Ele tem um A. Nesse caso, é bobagem apostar pois iremos empatar muito provavelmente.
  • Ele tem um 3. Ele vai foldar. Como eu disse, com um raise UTG e apostas no flop e no turn, é preciso ser um jogador fraco para continuar na mão com um 3 depois disso. Se vc acha que o vilão é fraco, aí sim vale a pena apostar.
  • Ele tem qualquer outra coisa. Ele vai foldar. Observação: um vilão muito fraco poderia pagar a aposta com KK ou QQ.
  • Ele tem 33. Bastante improvável (hehe), mas nesse caso o meu ás não vale nada.
Sendo assim, tirando o caso do vilão ser muito fraco, essa é uma situação que ou você empata, ou já ganha o que está no pote ou perde tudo. Não existe valor na aposta nessa street. É melhor esperar o river e fazer call caso o vilão aposte. Se o vilão vir all-in no river, aí teremos uma tough decision com um provável call (na minha opinião). Mas com o seu check no turn, é pouco provável que teremos esse move no river.

É isso! Fábio, meu camarada, dando uma de engenheiro de obra pronta, acho que tinha saída sim para a jogada. Mas fazer essa análise em poucos minutos e o no calor da jogada é difícil. Quem sabe numa próxima. Concorda com a minha análise??

Abraços!